Programação do 63º seminário do GEL

A onda de protestos ocorrida no Brasil em junho de 2013, assim como o movimento dos Indignados Espanhois (2011) ou a Primavera Árabe (2010) apresentam características inovadoras em relação à maioria dos movimentos políticos até então existentes, entre as quais mencionam-se a espontaneidade, a ausência de grandes lideranças, as múltiplas reivindicações e o fato de utilizarem o ciberespaço como parte de sua organização, manutenção e difusão. Entretanto, as novidades dessas novas formas de ação e interação políticas estão longe de ser compreendida, restando ainda muitas questões a serem respondidas, o que justifica a existência de pesquisas de diversas áreas do conhecimento debruçando-se sobre o assunto. Nesse contexto, o   presente trabalho propõe-se a analisar o funcionamento das Jornadas de Junho como um continuum que se manifesta nas ruas e no ciberespaço, observando o discurso que os próprios militantes produzem sobre cada uma dessas esferas e a forma de interferência de uma esfera na outra. Em outras palavras, procura-se compreender qual o papel da rede e qual o papel da rua no movimento. Para isso, são investigadas páginas da rede social facebook de grupos que participaram ativamente desses eventos, com ênfase para o Movimento do Passe Livre. A base teórica para essa investigação é a Semiótica Francesa e a abordagem recai sobre as paixões, pois acredita-se que uma ação política precisa de motivação passional para ser efetivada. Fontanille, em sua proposta sobre os níveis de pertinência do plano de expressão, considera que, para que haja uma abordagem social, cultural e interativa, é preciso abordar as paixões no nível da prática. Assim, as paixões são aqui abordadas como resultantes de interações sociais, e não como efeitos de subjetividade. Resultados prévios revelam que o relato das atividades de rua mobiliza um conjunto de papeis actanciais, valores e paixões que não corresponde exatamente àsmesmas configurações dos textos que organizam e difundem o movimento. As ações de rua são apresentadas como práticas intensas, que movem a militância; por sua vez, a rede, com seu potencial, expande e ressignifica essas práticas.