Programação do 63º seminário do GEL

Este trabalho tem por objetivo propor uma leitura comparada das obras Drácula, de Bram Stoker, e Barba Ensopada de Sangue, do escritor brasileiro Daniel Galera, tomando por base os conceitos de cronotopo na literatura de viagem, que tem em Bakhtin seu principal expoente, bem como a questão do espaço na obra literária (BRANDÃO, 2013). A categoria vem ganhando maior importância nas discussões teóricas por desempenhar funções primordiais, tais como: caracterizar e influenciar as personagens, localizar o texto geograficamente e propiciar a ação na narrativa. Ressalta-se a importância do elemento espaço, não mais subordinado ao tempo na análise das obras, no que tange à descrição psicológica das personagens em ambos os romances. A categoria espacial, não mais vista apenas como ornamentação e pano de fundo para outros componentes da narração, colabora com o caráter plurissignificativo da linguagem e desempenha papel fundamental para a interpretação das obras escolhidas para este estudo. Por meio da temática do encontro, pode-se observar o percurso do homem e sua relação com a natureza, descrita por meio dos cenários pelos quais transitam as personagens e a forma como esses locais parecem reproduzir os estados psicológicos dos sujeitos nas duas narrativas. No romance de tradição de Stoker, o homem confronta os valores primitivos em sua caminhada por uma Europa no início do desenvolvimento dos impérios e da tecnologia. Os valores representados pelo Conde Drácula ameaçam e colocam à prova esse progresso, lembrando-nos que, embora haja desenvolvimento nos grandes centros urbanos, a natureza do homem remonta a uma época na qual havia predomínio do instinto. Na narrativa contemporânea, o personagem sem nome de Daniel Galera realiza o percurso contrário, abandonando a promissora civilização em busca da história de seu avô, em uma cidade interiorana no litoral de Santa Catarina. Essa busca torna-se, no decorrer da narrativa, a procura por sua própria identidade, que parece residir em meio à natureza selvagem, enquanto espaço físico e, também, psicológico do homem.