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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Masculinidade e patriotismo: Sobre a utilização de categorias híbridas em duas entrevistas sociolinguísticas
Autor(es): Marcus Vinicius Avelar. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Masculinidades, Patriotismo, Entrevista sociolingustica
Resumo

OBJETIVOS: Este estudo foi desenvolvido dentro do paradigma da linguística sociocultural (BUCHOLTZ & HALL, 2005), que entende que (i) as categorias de identidade são produzidas na e pela interação linguística; e (ii) o estudo de fenômenos linguísticos pode elucidar processos sociais (BUCHOLTZ & HALL, 2008). Especificamente, tratou-se de analisar como a categoria identitária “homem” é discursivamente produzida e com quais outras categorias articula-se.

CORPUS: Nesta comunicação, são analisadas duas entrevistas constantes do corpus do projeto “É nóis na fita”, coordenado por Anna Bentes (Unicamp) e financiado pela FAPESP. O referido projeto buscou, a partir de entrevistas sociolinguísticas, documentar a fala de homens e mulheres da classe trabalhadora das regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo.

RESULTADOS: Constatou-se que, a despeito da ausência de perguntas relativas ao sentimento patriótico dos entrevistados, os traços [+masculino] e [+patriota] estavam sempre imbricados através do uso persistente da categoria “brasileiro”.

DISCUSSÃO: Há tempos a literatura sociolinguística indicou que as práticas linguísticas de construção da masculinidade não costumam estar isoladas de estratégias de construção de outras categorias identitárias (cf. PUJOLAR, 1997). O que é interessante no caso analisado, portanto, não é a associação entre diferentes categorias identitárias, de maneira geral, mas a associação reiterada entre “masculinidade” e “patriotismo” (ou “nacionalismo”) – e o foco nos recursos linguísticos de sua construção. Sociólogos mostraram que masculinidade e patriotismo eram irmãos siameses no imaginário das elites brasileiras do século XIX (cf. MISKOLCI, 2012) e historiadores apontaram que sentimentos patrióticos continuavam definindo masculinidades à esquerda e à direita na chamada “geração de 1968” (cf. MÜLLER, 2013).

O presente estudo corrobora parte dos achados de Miskolci e Müller ao mostrar que o traço [+patriótico] continua sendo um elemento não apenas constituinte, mas mesmo definidor dos diversos conceitos de “homem” enunciados pelos sujeitos entrevistados. Com efeito, o item lexical “brasileiro” (que correlaciona “masculinidade” e “patriotismo”), quando utilizado pelos entrevistados, é um recurso discursivo capaz de superar clivagens identitárias (tais como classe social, nível de escolaridade, ocupação, origem geográfica etc) e estabelecer um conjunto mínimo de critérios a partir dos quais a identidade “homem” pode ser problematizada. Na fala dos entrevistados, a masculinidade é, necessariamente, patriótica.