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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Etnofaulismos e suas marcas de uso em quatro dicionários monolíngues brasileiros
Autor(es): DENI YUZO KASAMA, Claudia Zavaglia. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave marcas de uso, etnofaulismos, dicionrios monolngues
Resumo

As marcas de uso representam a face pragmática do léxico descrito num dicionário. Por meio delas, é possível indicar ao consulente de um dicionário as restrições de uso de uma dada unidade lexical em relação a uma região geográfica, a um tempo cronológico específico, a um registro de língua ou ainda a um estrato social específico, entre outras. Essas variantes são chamadas de diatópicas, diacrônicas, diafásicas e diastráticas, respectivamente, e neste trabalho investigamos a utilização de outra categoria de marcas de uso que estão relacionadas a uma avaliação ou intencionalidade do falante, ou seja, aquelas   denominadas de diaevaluativas (HAUSMANN, 1977 apud WELKER, 2004, p. 131). Tratamos, especificamente, da aposição dessas marcas de uso a uma categoria de injúria, chamada de etnofaulismos. Definidos como “alusões depreciativas a estrangeiros” (ROBACK, 1944), esse tipo de injúria envolve grupos étnicos ou sociais (como alvos da injúria ou pela utilização do nome que os designa como forma de injúria), fazendo uso de uma carga estereotípica. Uma vez que parece “ser universal que grupos raciais e étnicos cunhem palavras e ditos ofensivos para se referirem a outros grupos" (PALMORE, 1962, p. 442) e que o dicionário tem, entre suas funções, aquela de descrever os usos linguísticos-culturais de um povo, entendemos ser essencial que tal descrição seja acompanhada de informações que deixem claro tratar-se de um uso injurioso. A título de ilustração, temos como exemplos de etnofaulismos: “cabeça-chata”, em referência depreciativa aos nordestinos; “capadócio”, para se referir ao impostor ou trapaceiro; e  “judeu”, para designar alguém que é usurário ou avaro. O que se espera para esse tipo de item lexical em dicionários é que haja uma indicação da pejoratividade de seus usos, por meio de etiquetas do tipo “pejorativo” ou “depreciativo”. A partir dessas considerações, buscamos averiguar em dicionários da língua portuguesa, no caso, o Aulete Digital (on-line), o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2010), o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (edições de 2001 e 2009) e o Michaelis Moderno Dicionários da Língua Portuguesa (1998) como esse tipo de item lexical é tratado. A análise recaiu sobre 87 etnofaulismos, dos quais foram recuperados 130 sentidos depreciativos. O que se constata é que a marcação utilizada é pouco organizada e homogênea, seja numa mesma obra ou entre elas, o que afeta a função descritiva dos dicionários analisados, além da  sistematicidade que se pressuporia haver subjacente a essa prática, comprometendo-os.

(Apoio: CNPq – Processo: 140658/2011-4)