Programação do 63º seminário do GEL

As manifestações de junho de 2013 geraram uma série de discursos em uma grande quantidade de gêneros. Estudos acadêmicos, notícias televisivas, reportagens impressas, artigos de opinião, manifestados em novas e velhas linguagens, procuraram compreender, explicar e delimitar o fenômeno cujo impacto parece ter se inscrito na história brasileira contemporânea. Caracterizadas por uma heterogeneidade de valores e uma polifonia de vozes dissonantes, as manifestações ainda permanecem como um fenômeno passível de ser estudado como representação do funcionamento discursivo da sociedade brasileira, pois por meio delas é possível tentar depreender os valores que orientaram alguns desses discursos cujos sentidos se manifestaram em uma linguagem verbal, visual, verbo-visual ou sincrética. Nesse universo de discursos produzidos por essa manifestação, a charge pode ser um campo de investigação pertinente, pois ela concentra e veicula determinados valores que podem jogar alguma luz sobre as inúmeras facetas que o acontecimento vivido em 2013 tomou nos meios de comunicação de massa. Em um momento concomitante às manifestações, inúmeras charges foram produzidas, delimitando seus sentidos e se inscrevendo em um determinado campo ideológico, representando, em parte, a heterogeneidade e a polifonia já mencionadas. Considerada igualmente como um discurso político, a charge carrega em sua materialidade o ponto de vista de um enunciador diante de um determinado evento no qual ele se posiciona em relação às polêmicas em torno da disputa pelo poder e pela predominância de um determinado sentido em detrimento de outros. Para este trabalho, foram selecionadas charges reunidas em duas páginas de dois portais distintos (UOL e BOL) com o intuito de se pensar em como algumas estabelecem uma ligação interdiscursiva e intertextual com outros momentos políticos nos quais a mobilização de parcela da sociedade (brasileira ou não) foi igualmente destacada. As hipóteses norteadoras desse recorte são as seguintes: qual é a função da história no paralelo que os enunciados estabelecem? Quais são os efeitos de sentidos advindos dessa configuração enunciativa particular? Em que medida, a historicidade posta no enunciado valoriza ou critica os movimentos de junho de 2013? Qual é o fato histórico mais recorrente que surge no diálogo com as manifestações de junho? Para se tentar chegar a uma resposta a essas questões, este trabalho se servirá do quadro metodológico da semiótica discursiva e da semiótica plástica para se depreender os valores presentes sob a cobertura manifestada pela linguagem visual ou verbo-visual da charge, assim como o posicionamento dos enunciadores diante do fenômeno das manifestações.