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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: A voz gutural na música: regularidades na constituição de possíveis ethé
Autor(es): Lucas Martins Gama Khalil. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Voz, Discurso, Ethos
Resumo

Este trabalho tem como objeto uma espécie de voz que, no âmbito da música (especialmente nas vertentes consideradas “extremas” do rock, como o death metal e o black metal), é conhecida como “gutural”. Tal voz, realizada articulatoriamente a partir de um encurtamento da passagem do ar na garganta, produz um efeito de distorção semelhante ao de um urro animalesco e análogo ao dos instrumentos de corda utilizados nas mesmas canções que geralmente recorrem a ela. A questão que nos interessa não é exatamente as peculiaridades fonéticas que constituem a produção dessa voz, mas antes os efeitos de sentido que ela pode engendrar, pois acreditamos que tal materialidade, aliada a outras (como a letra e o arranjo da canção, os materiais gráficos das bandas, a performance em videoclipes e espetáculos etc), ajuda a estabelecer determinados ethé ao enunciador, além de fazer parte da construção de uma cenografia específica nas canções que a empregam. É importante destacar que, na maioria das vezes, os gêneros musicais supracitados trazem em suas letras temas como morte, violência, satanismo; nesse sentido, a voz gutural, aparentemente animalesca ou “desumanizada”, corroboraria um ethos cujos traços semânticos definem-se a partir da relação entre tal materialidade e as diversas construções discursivas geralmente difundidas sobre tais temas no decorrer da história. Adotamos como perspectiva teórica a Análise do Discurso, sobretudo a partir dos estudos de Dominique Maingueneau. Para esse autor, a noção de ethos permite que articulemos discurso e corpo, na medida em que a instância subjetiva enunciadora não se deixa perceber apenas como um estatuto (o daquele que simplesmente enuncia), mas como um tom associado à representação de um “corpo enunciante” historicamente circunscrito. Rejeitando uma oposição intransponível entre os signos linguísticos, como portadores de uma suposta essencialidade semântica, e a voz, como aspecto auxiliar e contingente, esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o modo como o emprego da voz gutural contribui para legitimar certas representações da imagem de enunciador, observando a relação constitutiva com as práticas discursivas em que ela se insere.