logo

Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: DA PASSAGEM DA FALA INFANTIL PARA A LÍNGUA MATERNA: CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PAPEL DO OUTRO
Autor(es): Silvana Perottino, MARIA TERESA TEANI DE FREITAS CURTI. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Interacionismo, Lngua Materna, Fala Infantil
Resumo

O objetivo deste trabalho é discutir uma questão instigante para a área de aquisição da linguagem: o bebê, no primeiro ano de vida, fala um grande número de fonemas, incluindo os que não pertencem a sua língua, mas, depois, produz somente os que fazem parte da(s) língua(s) do seu entorno. O que acontece com o que pareceria ser uma capacidade infinita de produzir sons? O que determina esse “filtro” para a escuta dos sons da sua língua? Tomamos como ponto de partida uma palestra, “A genialidade linguística dos bebês”, proferida pela pesquisadora Patricia Kuhl. Sua equipe realizou experimentos com bebês americanos e japoneses na idade entre 6-8 meses e, também, quando atingem entre 10-12 meses, os quais foram submetidos à escuta dos fonemas /r/ e /l/. No primeiro grupo, os sons eram reconhecidos tanto por americanos quanto por japoneses; já no segundo, a diferença entre esses dois fonemas mostrou-se fundamental somente para as crianças americanas. Esse achado foi interpretado pela pesquisadora como uma atividade de natureza estatística exercida pelo cérebro do bebê: conjunto de fonemas significativos para sua língua permanece, já os não produtivos são descartados. Parece-nos possível encaminhar uma discussão em termos de fala infantil e língua materna, e uma passagem propícia para esse fim vem dos experimentos com bebês na situação de contato com uma língua estrangeira. Eles distinguem os sons de outra língua depois de serem submetidos a sessões em que um adulto fala essa língua diretamente a eles, mas o desempenho cai drasticamente no contexto em que eles interagem com gravações feitas em áudio ou em vídeo. A conclusão da autora é de que há necessidade de um adulto falando com o bebê para que este faça, posteriormente, a distinção entre os fonemas dessa língua estrangeira. Alçamos essa hipótese de Kuhl para pensarmos no fato inquestionável de que a criança, salvo ocorrência de avatares, no final do primeiro ano, produz palavras da sua língua. No interior da perspectiva interacionista (De Lemos, 2002; Pereira de Castro, 2010, 2011) fala-se em identificação da criança em relação ao outro/à língua, assim como em corpo pulsional, no sentido de que a criança está sob o regime da demanda e do desejo, ou seja, submetida à interpretação do outro/representante da língua. É ainda sob a perspectiva desse terceiro, a língua, que se pode considerar a fala infantil como não tendo futuro, necessariamente esquecida pela criança, para que sua língua materna ocorra.