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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Desenhos de um mundo outro: Loucura e Olhar em Guimarães Rosa, Silvina Ocampo e Luis Martín-Santos
Autor(es): Giseli Cristina Tordin. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Loucura, Subjetividade, Realidade
Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar a narrativa Buriti, de Guimarães Rosa, a partir da leitura comparada com “El castigo”, conto de Silvina Ocampo, e com Tiempo de silencio, romance de Luis Martín-Santos. Pretende-se avaliar como estas narrativas, a partir de elementos conspícuos às três – o olhar e a loucura –, elaboram os diferentes sentidos de realidade a partir dos quais as personagens constituem sua subjetividade. Martín-Santos, escritor e psiquiatra espanhol, em seus ensaios científicos de psicanálise, afirma que as escolhas do homem dependem do olhar, ou seja, como cada um projeta o que quer ser no futuro. Trata-se de uma psicanálise de tendência prospectiva e que teve Jean-Paul Sartre como um de seus inspiradores. Já na psicanálise freudiana, de tendência retrospectiva, o passado influencia e explica as condutas do sujeito. Martín-Santos, sem negar essas tendências, expande-as a partir de Martin Heidegger: as escolhas do sujeito – como este se vê e constitui-se – não estão separadas de sua mundanidade. Não existe oposição sujeito-objeto, mas um mundo que, articulando-se ativamente com o “ser-aí”, apresenta-se segundo as relações de sentido que o sujeito articula. Martín-Santos amplia este aspecto teórico (do olhar à loucura) e afirma que a loucura seria a perda da identificação do sujeito com relação ao outro e com seu arredor. O “ser-no-mundo” torna-se “ser-em-si”, ou seja, aquele que não consegue reconhecer sua mundanidade nem alteridade. Esta afirmação é ressignificada em sua obra literária. Assim, procura-se evidenciar neste trabalho que o enunciado de que Pedro, em Tiempo de silencio, estava louco era uma forma de apagar os próprios conflitos que a personagem vivia, não permitindo que ele acedesse a outros níveis de significação da realidade. Na obra de Rosa, a loucura presente nas personagens secundárias e descolocada do centro da narrativa é a que possibilita apreender as mudanças em relação à norma sertaneja (e o desenho de um mundo outro que nascia tanto do choque entre a modernidade e a tradição quanto da compreensão dos sentidos que a loucura “pressentia” e que os olhos abarcavam. Leandra aprendia a ver-se a partir tanto dessas formas de loucura quanto dos olhos de iô Liodoro). Já a loucura em "El castigo" encontra pontos de convergência com a de Tiempo de Silencio: sua justificativa pretendia diminuir as queixas da protagonista, embora não apagasse o desejo de um mundo outro, sem desigualdade de gênero, o que Leandra, em Buriti, parece, no entanto, conquistar.