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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Construções com “se” imperativas na virada dos séculos XIX a XX
Autor(es): Giovanna Ike Coan. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave imperativo, construes com
Resumo

A expressão gramatical do imperativo tem sido objeto de diversos estudos sobre o português brasileiro (PB). Pesquisas variacionistas analisam o uso das formas do chamado “imperativo verdadeiro” (o imperativo com morfologia e sintaxe próprias,  e.g., “Canta, bebe”) e do “imperativo supletivo” (derivado do subjuntivo, e.g., “Cante, beba”), relacionando-as ao uso variável dos pronomes pessoais “tu” e “você”, em perspectivas sincrônica e diacrônica (cf. SCHERRE, 2005; CARDOSO, 2006; SCHERRE et. al., 2007). Estudos funcionalistas, por sua vez, examinam a opção por tais formas a partir de parâmetros como graus de imperatividade, tipos de relações interpessoais e semântica verbal (cf. LIMA-HERNANDES et. al, 2009). Todavia, tais investigações não têm enfocado um tipo de expressão imperativa muito comum na escrita e na fala do PB: o imperativo seguido do pronome “se” – e.g., “Leia-se, veja-se, imagine-se, durma-se” –, fenômeno mencionado por Hawad (2002).

A presente comunicação tem como objeto de estudo o verbo imperativo afirmativo com “se” em “corpora” do final do século XIX ao início do XX. São examinados documentos escritos em âmbitos diversos (burocracia, publicidade, culinária), os quais têm em comum a expressão de atos de comando, ou seja, de atos ilocutórios diretivos (MATEUS et. al., 1983). Além de analisar o tipo de imperativo empregado (verdadeiro ou supletivo), os graus de imperatividade das construções (ordem, pedido, sugestão, conselho etc.), e a ausência/presença de complementos verbais (“Arquive-se” vs. “Bata-se a clara”), intentamos buscar motivações pragmáticas para a inserção do “se” nesse contexto e seus possíveis efeitos de sentido. Assim, o valor semântico do “se” levaria a referência do destinatário – i.e., de quem é exortado a cumprir a ação verbal – a se expandir para a indeterminação, para um receptor genérico, como “qualquer pessoa” (COAN, 2011).

Uma vez que a virada do século XIX para o XX foi período de grandes mudanças na sintaxe do português brasileiro (TARALLO, 1993), aventamos ainda a hipótese de que a inserção do “se” nas frases imperativas se correlacione ao fenômeno de inserção do pronome junto a verbos infinitivos – e.g., “É impossível se estudar aqui” (cf. NUNES, 1990; CAVALCANTE, 2006; DUARTE, 2008) –, para marcar a referência indeterminada.