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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: A DIMENSÃO ARGUMENTATIVA NA POESIA METALINGUÍSTICA DE FERREIRA GULLAR
Autor(es): helba carvalho. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Estilstica, Anlise do Discurso, Argumentao
Resumo

A poesia metalinguística de Ferreira Gullar constrói uma sequência de argumentos que valida não só um estilo, mas um posicionamento crítico sobre a concepção de poesia, resultando em um ethos discursivo de mestre. Para isso, serão analisados alguns fragmentos de diferentes poemas metalinguísticos do poeta, a fim de que se comprove, por meio de marcas lingüísticas e discursivas, a tese do escritor.   Ao analisar alguns poemas, nota-se que o poeta orienta maneiras de ver e de pensar a poesia: isso seria uma tendência natural do discurso e de sua natureza dialógica, no sentido de agir sobre o interlocutor, como observou Charaudeau, que todo ato de linguagem emana de um sujeito que gera sua relação com o outro (princípio de alteridade) de maneira a influenciá-lo (princípio de influência) (Charaudeau, 2005, p. 12). Diferente da estratégia de persuasão programada do discurso político ou da publicidade, em que se estabelece uma orientação argumentativa, no texto ficcional, como a poesia, observa-se uma dimensão argumentativa, conforme observou Amossy (2005, 2006). Nesse sentido, o que se observa nos poemas metalinguísticos de Gullar, como um texto literário, é apenas uma orientação sobre os modos de ver do parceiro e não se manifesta como uma intenção argumentativa, conforme observou Amossy (2011), em relação ao discurso eleitoral ou ao anúncio publicitário. De forma indireta e não admitida, a poesia metalinguística de Ferreira Gullar direciona o olhar do interlocutor para que possa refletir e perceber a poesia de uma certa maneira; o locutor apresenta seu ponto de vista fazendo uso dos recursos da língua, como a polissemia, a metáfora, a repetição, o ritmo etc. Observa-se como esses recursos constroem um logos nos argumentos, que aliado ao ethos, a imagem de si que o orador projeta em seu discurso, liga-se ao pathos, a emoção que ele quer suscitar no outro. Trata-se de um fato no discurso e não só na língua. Benveniste observa que “a enunciação postula um interlocutor”, um “parceiro” com quem o locutor estabelece necessariamente uma “relação discursiva” (Benveniste, 1974, p. 85). O poeta coloca-se diante da realidade do próprio discurso poético, afirmando e negando conceitos e posições, suscitando no interlocutor a dúvida do próprio poeta: como tornar a poesia necessária? para quem?, como em seus versos: “O poema, Senhores,/ não fede/ nem cheira”; “A poesia/ quando chega/não respeita nada (...)”.