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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Patrick Sériot e a reinvenção do marxismo bakhtiniano
Autor(es): Bruno Bohomoletz de Abreu Dallari. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Bakhtin, Voloshinov, marxismo
Resumo

Em 2010, Patrick Sériot publicou, com Inna Tylkowski-Ageeva, uma edição bilíngue do livro Marxismo e Filosofia da Linguagem (MFL) com autoria atribuída exclusivamente a Voloshinov. A edição é uma nova tradução e se propõe a retificar problemas da primeira edição francesa, publicada em 1977, traduzida por Marina Yaguello. Esta comunicação visa analisar e criticar o prefácio do livro, que justifica e explica a nova edição e é um artigo em seu próprio mérito, intitulado Volosinov, la philosophie de l’enthymème et la double nature du signe.

Sériot apresenta como principal motivação para a nova tradução reinserir o texto em seu contexto original de produção, a União Soviética dos anos 1920. Para ele, os problemas da primeira tradução decorrem do fato dela ter sido feita sob o prisma da linguística francesa dos anos 1970. Sériot considera particularmente perniciosa a presença nela de conceitos de Benveniste que teriam imprimido um viés distorcido às formulações da obra.

Porém, como o prefácio deixa claro, o projeto em questão é muito maior do que retificar a tradução. Sériot critica a própria noção da existência do chamado Círculo de Bakhtin como comunidade de discussão e reflexão e postula a total dissociação entre a produção e as concepções de Voloshinov e Bakhtin. Sobretudo, Sériot pretende reafirmar o caráter marxista da formulação apresentada no MFL, postulando particularmente a importância de explorar seu vínculo com as ideias do seu conterrâneo e contemporâneo Vigotsky.

O projeto de Sériot é discutível em pelo menos dois aspectos. O primeiro é a própria noção de que a “recuperação do contexto original” de uma obra é explicativa dela. Se pode haver elementos interessantes a serem resgatados, as condições de produção de uma obra relevante, em qualquer área, têm uma relação apenas acidental com o ambiente social imediato em que ela foi produzida, o que é particularmente flagrante no caso do MFL. O segundo é assumir que o MFL é um texto marxista quando não há nenhum elemento marxista em sua formulação, uma ausência que, curiosamente, é notada pelo próprio Sériot em seu prefácio.

A decorrência mais grave dessa leitura é o esvaziamento do aporte linguístico bakhtiniano que, independente das atribuições de autoria, é da maior originalidade e relevância. A formulação, bakhtiniana e/ou voloshinoviana, que emerge do prefácio de Sériot soa como uma reflexão sobre literatura entre outras feitas pelos “marxistas da cultura” do século XX, com a peculiaridade de ser a sua versão “soviética”.