Programação do 63º seminário do GEL

No livro “Frases sem texto”, publicado em 2014, Dominique Maingueneau propõe um conjunto de conceitos relativos às frases sem texto, isto é, busca refletir sobre as propriedades que certas frases possuem, que as fazem ser destacadas e circular, geralmente fora do texto do qual fizeram parte na origem. Para o pesquisador francês, por conta de um conjunto de características quanto ao significante e ao significado, as frases sem texto possuem um funcionamento enunciativo tal que mantêm com o texto uma relação bastante tensa, como se quisessem saltar para fora dele. Essas frases segundo o autor adquirem o estatuto de aforizações, ou seja, passam a fazer parte de um regime enunciativo que é distinto do regime dos gêneros do discurso. Nesse sentido, o autor propõe que a enunciação deveria ser pensada em aforizante e textualizante. Dentre as principais diferenças entre a enunciação aforizante e a textualizante está o fato de que a primeira (re)apresenta uma enunciação anterior, pela intervenção de um terceiro que converte o locutor original em uma instância, o aforizador – que é o produto da operação do destacamento subjetivo. Ampliando essa discussão para o âmbito da autoria, Maingueneau afirma que esse aforizador entra em forte ressonância com as características do auctor. Nesta comunicação, alicerçados na proposta de Dominique Maingueneau, buscamos analisar um conjunto de pequenas frases atribuídas ao poeta mato-grossense Manoel de Barros, por ocasião da sua morte, em 13 de novembro de 2014. As frases que analisamos circularam nas mais diversas plataformas discursivas: jornais televisivos, jornais impressos e eletrônicos, revistas, sites, blogs, durante a segunda quinzena do mês de novembro de 2014. Nossa questão de fundo é compreender em que medida as frases destacadas da configuração original da obra de Barros contribuem para a constituição de uma nova obra do autor e também para a constituição de um novo estatuto pragmático.