Programação do 63º seminário do GEL

Nosso trabalho se constitui no entremeio dos campos do saber da Análise de Discurso e da História das Ideias Linguísticas, com o objetivo de discutir a questão da tecnologia não como produto inventado pelas ciências exatas, mas como um objeto de linguagem, construído na (in)tensa relação do sujeito com as línguas e suas leis. Na esteira da leitura de Auroux (1998), especificamente no campo das ciências da linguagem, temos um processo de mecanização da linguagem (Auroux, 1998) e de matematização nas ciências da linguagem (Auroux, 2012), ou seja, as tecnologias oriundas do movimento de informatização colocam a linguagem das máquinas lógicas em um atravessamento da relação homem-linguagem-mundo e das formas de administração da memória e do saber linguístico na contemporaneidade. Desse modo, temos, no ciberespaço, uma relação do sujeito com uma “língua digital”, nas relações sociais através de monitoramentos, estatísticas, sugestões de significantes, etc. Consideramos, assim, que, de um lado, as tecnologias contemporâneas do espaço digital têm como condição de existência essa “língua digital”, que, por sua vez, constrói-se pelos movimentos de gramatização, de informatização, conforme Auroux (2001), da emergência do espaço digital (Orlandi, 2013) e da emergência do sujeito (Haroche, 1988). Por outro lado, compreendemos que há uma (re)organização das práticas discursivas na sociedade em rede (Legendre, 2001) que não pode ser ignorada pelos cientistas das humanidades, devendo a responsabilidade ética e política de interpretar (Pêcheux, 1990) estar atrelada a esses, nós. É na formulação e na circulação dessa “língua digital”, com tempo (velocidade) e espaço próprios (C. Dias, 2012), que imagens da fala, da escrita e do corpo se (re)formalizam constituindo uma corporeidade digital atualizada nos comentários, por sua vez, potencializados pela circulação de vídeos ou imagens nas redes sociais. Considerando os movimentos de gramatização e de informatização e a emergência do sujeito no espaço digital, em um ponto de encontro de uma memória sobre a instrumentalização das línguas (Auroux, 2001; J. Dias, 2012) com a atualidade, para o presente trabalho buscamos compreender os efeitos de sentido de “escrever” em comentários do Facebook sobre uma capa da revista Época, veiculada pela mídia impressa e pela mídia eletrônica e que traz o seguinte título principal: Use a internet para escrever melhor.

Apoio:  CAPES-PNPD Institucional  - Processo n.  007096/2011-76