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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Rasuras em segmentação não convencional de palavras: indícios da heterogeneidade constitutiva da escrita
Autor(es): Adelaide Maria Nunes Camilo. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave rasuras, segmentao de palavras, heterogeneidade da escrita
Resumo

Neste trabalho, buscamos discutir as rasuras em segmentações não-convencionais como pistas da percepção, pela criança, tanto de aspectos prosódicos da língua portuguesa, quanto da ideia por ela feita sobre o código escrito durante seu processo de aquisição da escrita. Para tanto, usaremos como material base textos produzidos por duas crianças  (LM e ML), durante o Ensino Fundamental I.

Defendemos a ideia de que o escrevente, durante a produção de  texto, deixaria marcas de oralidade em sua escrita, permitindo-nos detectar traços do imaginário de escrita presente nas práticas sociais orais e letradas em que ele transita. Para essa discussão, tomamos como a teoria da heterogeneidade da escrita proposta por Corrêa (2004) assim como Nespor e Vogel (1986) a respeito da dos constituintes prosódicos.

Durante a análise de dados, foram encontradas ocorrências de estruturas como: “derepente”, “desúbito” e “oque”. Nos três casos apresentados, o escrevente hipossegmenta a cadeia escrita de modo a unir o elemento clítico à palavra seguinte, comprovando o proposto por Abaurre e Silva (1993) de que os elementos clíticos como artigos, preposições, conjunções seriam estruturas em que as crianças apresentariam dificuldades para identificar como palavras independentes.

Ainda se tratando do grupo clítico, na ocorrência “deixamno”, podemos notar não só a postulação de um elemento clítico, mas a tentativa de alçamento da escrita a um imaginário de uma forma privilegiada pela escrita culta formal, na medida em que o escrevente opta por usar um pronome enclítico, enquanto a forma mais recorrente no português brasileiro seria o pronome proclítico.

Em relação à frase fonológica, identificamos o dado “pensoueu”, em que a criança, ao juntar as palavras “pensou” e “eu”, deixa indícios de sua percepção do contorno prosódico representativo de uma frase fonológica. Já no dado “paraconseguirremédios” a ausência do espaço em branco entre as palavras indicia uma representação baseada na percepção de uma frase entoacional. Porém, é importante destacar que esse enunciado se encontra em um local de limite de página, o que também pode ter influenciado a criança a unir as partes com o intuito de economizar espaço.

Assim, acreditamos que o escrevente não se baseia apenas na oralidade, mas também em fatores próprios da escrita, como o espaço disponível na folha, para construir seu texto, desse modo, a fuga à convenção ortográfica poderia ser motivada pelo fato de os alunos refletirem sobre a língua, sendo as segmentações não-convencionais locais em que o escrevente revelaria marcas de sua subjetividade.