| Resumo |
A semiótica greimasiana iniciou seus estudos dos discursos pela narratividade, dedicando-se ao exame de textos que dão ênfase às transformações das relações entre sujeitos e objetos. O interesse por textos em que os “estados de alma” são centrais, bem como o reconhecimento de limitações de um modelo que privilegiava a problemática da ação fizeram com que os semioticistas se dedicassem, especialmente a partir dos anos 80, à análise dos afetos, da dimensão passional dos discursos, desenvolvendo uma semiótica das paixões. É essa abertura à investigação do componente afetivo e sensível dos discursos que viabiliza também, no campo da semiótica, o estudo da memória, entendida como construção discursiva. Afinal, não é possível tratar das questões ligadas à memória, sem levar em conta a maneira como o sujeito é afetado pelo vivido. Tendo isso em vista, as comunicações que formam este simpósio refletem sobre o papel das relações entre a memória e as paixões no processo de geração do sentido de diferentes objetos discursivos. No trabalho “Éthos e Páthos: entre paixão e memória”, são examinados os mecanismos linguísticos e discursivos constituintes de uma fábula de La Fontaine e de poemas de Paulo Leminski, na medida em que os gêneros convocados favorecem condições de emergência de distintas paixões. Em “Memória e afetividade em Vermelho amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós”, analisam-se os efeitos de sentido passionais criados pelo diálogo entre a apreensão do menino recordado e aquela do narrador adulto na narrativa autobiográfica de Bartolomeu Campos de Queirós. Os diferentes perdões de que trata Olivier Abel em Le Pardon: briser la dette et l'oubli (2008) são discutidos na comunicação “Por exemplo, o perdão”, que ainda reflete sobre os desdobramentos de cada perdão, no nível dos indivíduos e da sociedade. Em “O discurso ritual: a passionalização da resignação”, com o objetivo de investigar a passionalização da resignação, toma-se como objeto de estudo o discurso ritual do exorcismo no múnus santificador da Igreja. Por fim, em “Paixões da memória: entre a lembrança e o esquecimento” é examinado o papel das lembranças e do esquecimento na constituição das paixões que emergem em obras autobiográficas de Graciliano Ramos e de Pedro Nava. Nessa gama variada de contribuições, a ideia é demonstrar de que modo o instrumental teórico-metodológico da semiótica do discurso ajuda a pensar os procedimentos discursivos e textuais envolvidos na configuração da memória e dos afetos nos textos em questão.
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