| Resumo |
Considerando que mediações editoriais não vêm acrescentar-se aos textos como circunstância contingente e, portanto, que a inscrição material dos textos é parte integrante de seu sentido, reunimos neste simpósio estudos de diferentes objetos discursivos, delimitados em conjunturas distintas, que têm em comum tratarem do modo como uma certa formalização material, implicada em um dado modo de circulação do objeto aí constituído, estabelece uma identidade assentada nos modos de inscrição e de dispersão de uma semântica fundamental.
Interessa explorar a noção de comunidade discursiva, na medida em que seu uso corrente, amplo e difuso, se refinado, possivelmente permite explicar fenômenos identitários típicos do atual período, cujas institucionalidades se erigem em novas condições de produção, demandando que se considerem variáveis não contempladas na tradição dos estudos do discurso. Atravessados por uma relação espaço-temporal imposta pela cibercultura – fundamentada na sofisticação dos sistemas de controle e altamente informacional –, esses fenômenos se delineiam com base em materialidades de alta potência difusora, cuja produção supõe sucessivas mediações editoriais, oficiais ou oficiosas, complexificadoras das noções de fonte, autoria, instituição e mesmo de posicionamento.
A noção de midium, que conjuga suportes e circulações, parece, então, muito proveitosa no exame da composição desses objetos que sintetizam valores, crenças e toda sorte de produção simbólica que os sustêm, amarrando decisivamente um dizer e um dito, de tal maneira que organizam grupos, movimentos, causas... e não propriamente escolas, partidos, associações... Interessa, portanto, estudar a conjugação de suportes e circulações que conduz às reflexões sobre os ritos que presidem retomadas, edições e reedições, tecendo, na rede discursivizada, os nós que lhe dão o tom.
Assim, analisaremos os seguintes objetos: 1. as retomadas de um sintagma cristalizado pela mediação de diferentes institucionalidades políticas e sociais, que, assim, constroem uma noção moral de “solidariedade coletiva”;Â 2. a retomada de textos literários cuja mediação editorial, ao estabelecer uma coletânea póstuma, recria o valor dos “originais”; 3. as retomadas do termo “revisão” em periódicos científicos como indícios dos processos de tratamento editorial de textos na escrita científica e seus efeitos na comunicação do conhecimento; 4. os processos editoriais que caracterizam livros de português para estrangeiros e unidades de aula colaborativas do Portal de Professores de Português Língua Estrangeira, atribuindo sentidos a “cultura brasileira”; 5. as mediações que caracterizam a edição de livros de EaD e permitem entrever relações de sentido que devem participar da construção da aceitabilidade social dessa modalidade de ensino. |
